“coração meu tambor do peito meu amigo cordial fez de mim um amador”
Depois de tantos anos de estudos na teologia e de presença junto às juventudes vejo que, mais uma vez, o Espírito que sopra onde quer, nos remete ao mais profundo de cada um de nós, a algo que já sabíamos, que já sabemos e, que, por algumas razões, nos distanciamos e deixamos que estruturas de fechamento desse sopro ocupassem seu lugar em nossos pensares e fazeres. Mas, em sua liberdade, ele não se deixa represar por essas estruturas, porque é livre e amoroso e, assim, encontra as brechas que só o amor consegue perscrutar e alcançar.
Essa vivência é reconhecida pelas juventudes por um termo semelhante, mas que carrega uma novidade, que aqui buscamos apresentar: a ecumenicidade. A ecumenicidade é o estado do que é ecumênico, é a vivência, é a integração entre o pensar e o agir, é a mística que inspira, aquece e movimenta. Ela pode estar nos espaços institucionais, ela pode estar nos espaços não institucionais, porque é livre para voar.
É também uma compreensão que vem modificando o campo religioso brasileiro, constata Bianca Ortega.
A vida religiosa e os sentimentos de pertencimento dos jovens, só podem ser compreendidos se levarmos em conta as características contemporâneas desta sociedade com suas inter-relações entre redes e territórios, isto é, olhando para todas as relações desses jovens em seus espaços e convivências. (2019, 131)
As juventudes nos convidam a uma nova dinâmica relacional. É um caminho talvez não tão simples diante da complexidade das estruturas que nos envolvem, mas, com certeza, um caminho gratificante porque fundante, amoroso, e abraçado pela graça divina que tudo permeia e orienta.
Raimon Panikkar, um dos mestres do ecumenismo, usou a expressão ecumenismo ecumênico. Faustino Teixeira, um grande pesquisador e místico nesse diálogo, nos convida a pensar em desafio dialogal. O Manifesto da Assembleia do Povo de Deus nos fala do ecumenismo como uma descoberta na qual começamos a despojar-nos de nossos preconceitos e abraçamos com muitos braços e muitos corações o Deus Único e Maior.
A experiência de acolhida do sagrado é também uma experiência de humildade, de contingência e, quando nos percebemos em uma busca em comum, o que é o Mistério que nos reúne, nos convoca a cirandarmos em uma mística que principie nessa atitude de contemplação e reverência que conduz às demais atitudes que nossas juventudes nos convidam a vivenciar.
Rose Fernandes (coordenadora do MEL, membro da Comunidade Bremen)
Na primeira foto – Momento místico em Salvador/2023 – Welder Cardoso, Felipe Teixeira, Patrícia Oliveira e Frei Lorraine.
Na segunda foto – Celebração da partilha na praia em Fortaleza/2014