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Que as ideias voltem a ser perigosas

Por João Paulo do Vale Medeiros,
sobre o I ENJEL, em Fortaleza, 2014

São 10 anos que iniciamos essa estrada, coisa linda.

Das montanhas do sul do México, lá onde a névoa se faz cortina alva nos dias mais frios, o subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional nos faz um questionamento: “A religião é mesmo o ópio do povo?” Da nossa parte cremos que sim, mas também que não. Sim, quando serve de instrumento de alienação e opressão, quando é justificativa de ódio e exclusão, como afirmou o jovem Marx, ainda não histórico e hegeliano. Porém, no momento em que ela é usada como instrumento de libertação e justiça social possui uma força tremenda.

Ora, como lembra Leonardo Boff, o ser humano tem sede de um infinito, sede essa que só pode ser saciada em Deus (ou em deuses) que é infinito. Nessa dialética espiritual aparecem das mais variadas possibilidades, desde aquelas religiões (ou vertentes de uma religião) que outorgam para si toda a verdade e conhecimento, enclausurando o divino em um choro, em uma dança ou em um dogma moral, até aquelas encarnadas na luta e sofrimento do povo.

Entre outros tantos é o caso das Comunidades Eclesiais de Base -CEBs, organizadas de uma forma não hierárquica, sem dogmas e submissão ao clero. Utilizando da metodologia freiriana, da interpretação marxista da realidade, da crítica feminista ao patriarcado, do cuidado com a mãe terra e da abertura às espiritualidades afro, indígenas e orientais tecem os fios suaves de um mundo anticapitalista e sem qualquer tipo de opressão que chamamos de socialismo, de sociedade do bem viver.

Nessa busca transcendental o que cabe a nós é a sensibilidade de perceber onde habita o sagrado, tomar posição e assumir suas consequências, já dizia o profeta de nossos tempos dom Pedro Casaldáliga: “na fé, no amor e na revolução não há neutralidade”.

O primeiro Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora é para aqueles que de alguma forma unem a luta social com a vida espiritual, o que o Woodstock foi para o movimento hippie da década de 60, o ecoar de canto multicolorido no meio da dor. Espiritualidade negra, indígena, gênero, diversidade sexual, movimentos sociais… um mosaico de utopias libertárias chamam centenas de jovens ao sempre forte e belo nordeste.

Somos levados e levadas a acreditar em outro mundo possível porque este já não é mais possível. Um capitalismo cada vez mais pobrecida e ecocida e um individualismo galopante exige de nós a feitura de uma revolução que cambiará não apenas o sistema econômico – claro que fundamentalmente – mas também a nossa lógica societária: uma revolução sem afeto
não será nossa revolução.

E nós, jovens, aqueles que sempre quiserem mudar o mundo, somos fundamentais: ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética (Che Guevara).

Vamos todas e todas para Fortaleza, mesmo que somente de coração, e construamos junto com os mártires, orixás, encantados e energias cósmicas essa tão louca e irresponsável ciranda de sonhos.

João Paulo do Vale de Medeiros

3 de maio de 2014

Fonte: https://www20.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2014/05/03/noticiasjornalopiniao,3245264/que-as-ideias-voltem-a-ser-perigosas.shtml

Foto: Txai Gabriel e João do Vale no Assentamento Normandia/Centro de Formação Paulo Freire, dez 2019, retiro do MIRE, Mística e Revolução.

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