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Como reverberar o Bem-Viver?

Seguindo com os passos para nosso III Enjel, trazemos aqui dois referenciais importantes para nosso caminhar – o princípio que tudo dinamiza e a as relações em comunhão. nComo caminhantes na sabedoria do Bem Viver, ousamos apontar os desdobramentos dos dois referenciais acima delineados: o princípio dinamizador e os seres em comunhão. Trazemos o termo – desdobrar – como consequência destes dois princípios e também com o sentido de ‘tirar as dobras’, como as costureiras fazem, elas abrem o tecido e ele se revela ‘sem dobras’, simplesmente se revela.

Ao adentrarmos nos dois princípios acima, três desdobramentos se revelam pouco a pouco, e persistem como inspiração, respiração e caminhos comunitários e locais: a relação tempo-espaço, a escuta das comunidades locais e a mística que brota do caminho. Vamos tratar cada um deles em um artigo novo, ok? Então, bora seguir a caminhada….

A relação tempo-espaço

Um primeiro desdobramento é a relação com o tempo e o espaço. Em tempos modernos, o tempo ganhou significados relacionados à alta velocidade, de medida de eficácia, desenvolvimento e progresso. As relações com o passado foram praticamente rompidas, o presente é fugaz, e o futuro, uma construção imagética. nO mesmo ocorre com a concepção de espaço, pois o espaço virtual vem ganhando papéis não apenas de trabalho e pesquisa, mas de relacionamentos de toda ordem, cada vez nos distanciando mais de espaços físicos naturais. nA ilusão da conexão virtual produziu uma grande desconexão em todos os campos relacionais. O espaço não é mais definido como presença local, mas suporta distanciamentos corporais, históricos e geográficos. Essa nova relação tempo-espaço vem afetando as subjetividades e coletivos, não apenas nas relações cotidianas, mas nas construções de significados, nas construções linguísticas e culturais.

O Bem Viver nos conduz a olharmos com muita atenção esse processo, observando o que ele tem produzido em cada um de nós e em nossas comunidades. O convite-convocação é, mais uma vez, o resgate dos significados originários de tempo e espaço. Quais seriam? Estamos muito distantes? Ou é possível vivenciarmos?

Viajemos na memória de uma pequeno vilarejo ou comunidade, distante da cidade, ou dos processos de produção capitalista e escravizantes. Ali encontramos árvores, flores, frutos, crianças correndo, pessoas conversando na porta de suas casas, que não possuem grades. Ali respiramos um outro ar, que vai nos transformando pouco a pouco. Ali a dimensão de tempo é completamente revisitada. O tempo se torna pleno, intenso. Não existe relógio para cronometrar, porque os fenômenos naturais são a grande conexão. O tempo é sagrado, ele se move, ele conduz, ele é passado-presente-futuro, ele é criador e dinâmico. Na linguagem teológica, poderíamos dizer que é kairós, tempo da graça e da fecundidade.

As relações de causa e efeito, próprias da racionalidade sistemática, logo pensam em consequências, em lógicas racionais, lineares. O Bem Viver não pensa sobre essas lógicas. Ele é vida, está presente e integrado. Ele é quântico, holístico complexo, para usar alguns conceitos que nos ajudem nessa reorientação. O mistério que há em tudo, permanece e é reverenciado, pois não há necessidade alguma de controlar os fenômenos, eles são naturais e, por isso, sagrados.

E o espaço? O espaço é vital, é face a face, é relação a relação, é totalmente conectado, é tempo real. Dessa forma, algumas conexões são naturais como, por exemplo, o micro e o macro, o local e o global, a tradição e a experiência presente. nnEstamos vivenciando novas relações tempo-espaço. Nesta experiência há um convite à uma centralidade, marcada pela confiança na vida, no mistério que embasa e orienta o viver. Não se trata de um tempo linear, e sim de um tempo contínuo, um tempo marcado pela circularidade, e também meta-histórico, escatológico. Cada comunidade reunida neste dinamismo se percebe participante desse mistério que carrega maternalmente a história e, por isso mesmo, é capaz de ser protagonista.

Rosemary Fernandes da Costa e Eduardo Brasileiro,O Bem Viver: caminho para uma mística libertadora. In: GUIMARÃES, E., SBARDELOTTI, E. e BARROS, M. 50 anos de Teologias da Libertação. Memória, revisão, perspectivas e desafios. São Paulo: Recriar, 2022

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