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O face a face: o que temos em comum?

É a partir do acompanhamento de alguns movimentos de juventudes, comunidades e coletivos, que apresentamos um convite que brota de seu agir ecumênico, de um ecumenismo que identificamos como vivência, como construção comunitária processual e muito dinâmica.

O convite consiste em olharmos para o que entendemos por ecumenismo. É interessante fazer memória de um caminho de discernimento nas teologias das religiões, quando começam a ser compreender num campo de fraternidade, como irmãs na fé e, por isso mesmo, caminhando de mãos dadas. Essa compreensão se desdobrou na necessidade de atitudes que a concretizem como, o diálogo, a abertura às diferenças, a cooperação, a busca de metas afins, o respeito à originalidade, a atenção e denúncia de atitudes não dialógicas ou intolerantes.

A ideia de movimento ecumênico ganhou mais e mais dimensões, e uma delas foi a compreensão de que Deus é sempre maior do que as expressões culturais e religiosas que ousaram e ousam dar nomes ao sagrado e desenvolver teologias e ritualidades.

Deus sempre é maior.

Há apenas um só Deus, de todos os nomes,

e mais além e mais aquém de todos eles,

Pai e Mãe de todos nós,

vivido na diversidade

das expressões religiosas das diferentes culturas

e encontrado na natureza,

no próprio coração e nos processos da histórica.

Este Deus é o nosso Deus.

Nossa fé ficou mais clara

e queremos proclamar, agradecidos, esta descoberta.

(Manifesto da Assembleia do Povo de Deus, Equador, 1992)

Esse é o dinamismo em que o conceito de ecumenismo foi sendo ampliado para além das profissões religiosas cristãs, e alargando sua compreensão para o que foi chamado de macroecumenismo. O macroecumenismo abraça, portanto, uma compreensão ainda mais ampla do conceito inicial, pois ele propõe uma grande ciranda, capaz de abraçar a totalidade dos povos de Deus, se despojando de preconceitos e reconhecendo a originalidade de cada expressão já existente, e ainda todas as possibilidades que podem vir, já que estamos diante de uma compreensão de que Deus é presente, atuante, movimento e assim, também, os povos em suas mais diversas linguagens e expressões.

Com esse convite, chegamos a uma pergunta fundamental que enraíza uma atitude ecumênica entre as juventudes: o que temos em comum?

Para tanto é preciso olhar, conhecer, aproximar, criar intersecções, reconhecer pontos em comum e pontos específicos. E como se faz isso? Nas rodas, nos diálogos, nas narrativas.

O olhar pessoal é convidado a perceber e sentir as afinidades, os pontos em comum, e não fincar estacas nas originalidades mas, ao encontrá-las, reconhecê-las como identidades legítimas e distintas. As formas de ver e experimentar o sagrado recebem nomes, cores, línguas, modos de viver e até compreensões diversas. Sim.

Mas, a pergunta retorna: quem somos nós? E estes se percebem como jovens que possuem essa busca em comum e também raízes que se tocam no mais profundo da terra, e no mais alto de seus sonhos.

Estamos diante não apenas de uma atitude ética, mas de um eixo orientador nas dinâmicas de encontros e planejamentos das juventudes em nosso tempo. São juventudes demarcadas pela subjetividade relacional, e em processo de superação da concepção de individualidade.

A estrutura intersubjetiva considera as identidades em sua originalidade, em diálogo aberto, escuta ativa, acolhedora e também interpelante. As narrativas pessoais são consideradas parte da construção dos projetos, as estratégias e decisões são processuais, flexíveis, abertas a avaliação e revisões constantes.

A perspectiva ecumênica deixa de se situar no lugar do desejo, e se torna a grande presença provocativa nos pequenos e grandes encontros de juventudes. Trata-se aqui de uma revisão também da compreensão de identidade religiosa e de pertença religiosa.

A identidade possui seu lugar de raiz e pertença e, ao mesmo tempo, se percebe relacional. Ao aprofundar as raízes, encontra outras raízes em um cruzamento no mesmo solo. Ao abrir sua copa, encontra novos galhos e possibilidades de ascese, de superações, de horizontes de desejos e realizações em comum.

Dizíamos acima que o ecumenismo passa a ser vivencial, e com isso, podemos constatar algumas estratégias para que essa prática seja real: construir processos que favoreçam a aproximação. E, neste caminho, introduzir trocas de significados, de representações, de linguagens, de identidades e pertenças, de visões de mundo.

Ainda dentro da pergunta que postulamos no início dessa sessão – o que temos em comum? – nos encontramos com o resgate de um centramento que está presente no cristianismo, no islamismo, no judaísmo, nas tradições orientais, nas tradições indígenas, nas tradições africanas. Enfim, o centramento na dinâmica amorosa. É ela quem convoca do mais profundo de si mesmo, ao olhar que encontra o mais profundo em cada ser e, com isso, a dialogia passa a simplesmente ser.

Talvez o que esteja na origem do distanciamento seja a ideia de que conhecer é saber cognitivo, intelectual e, aqui, neste ponto, as juventudes nos convidam ao resgate de uma fonte vital: a experiência do amor.

Rosemary Fernandes da Costa

Teóloga, assessora do MEL – Movimento de Juventudes e Espiritualidade Libertadora

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